Relato de voo.

Voadores: eu, Beto Schmitz​, Jacques Freitas​, Zé galinha, Sangio e Fernando Ramos Mendes​, esses dois ultimos eu viria a conhecer durante a semana de voos.

O dia começou nublado e pouco animador, eu não tinha grandes expectativas, queria apenas voar com o maior (8 vezes campeão) de asa delta, para assimilar o possível, nem que fosse por osmose.

Decolamos, a saída foi difícil, térmicas fracas e falhadas, não conseguimos formar um bando e voar todos juntos, apesar dos esforços do nosso líder, três pousaram a poucos quilômetros, seguimos eu, jacques e Beto, que mostrou sua habilidade ao escolher a ponta da serra do leão, onde encontrou a primeira térmica consistente do dia. 

Seguimos margeando a cordilheira com  relativa tranquilidade, nossos problemas começaram quando decidimos virar a direta para cruzar o rio Paraguassu em direção a BR242, ficamos uma hora inteira presos, lutando para manter altura a 700m do solo.

Nessa hora a calma e confiança do Beto fizeram a diferença, contei 72 giros no meu tracklog, 

A hora ruim cobrou seu preço e infelizmente jacques pousou.

tivemos um período de voo tranquilo e passamos alto sobre Itaberaba e por toda sua cadeia de montanhas, ficamos baixo, muito baixo mesmo, perto das 14h, juro que só não desisti de lutar porque o lugar era horrível para se pousar.

Demorei 20 minutos para subir ate 2500m com uma deriva de quase 15km, uma tirada de 5km e ja estava baixo novamente, mais um quase pouso, nova recuperação e logo adiante enxerguei o aeroporto de Lencóis. 

Alegria! Alegria!, recorde pessoal batido, provavelmente o maior voo de um "baiano".

Voávamos a mais de 4 horas e o cansaço e a fome me sussurravam: "olhe que pouso lindo, lisinho, perto da rodovia, depois só tem "roubada" montanha e floresta, pousa vai!"

Beto perguntou o que eu queria fazer e disse que iria pousar no aeroporto e pra la direcionei a asa.

Mas... 

... eu, aquele eu, que ignora o cansaço e a fome, que tem fome de voar, não queria pousar. minha asa não queria pousar e as térmicas, tão tímidas e fugidias durante a maior parte do dia e agora fogosas e tentadoras, não queriam meu pouso.

A chapada diamantina recortava o horizonte, insinuante,perigosa e linda.

Subi facilmente a 2700 m e decidi que iria em frente, beto perguntou se tinha pouso e eu soltei a seguinte perola: Reza a lenda que existe um pouso aos pes do Pai Inacio. ele que havia até aquele momento me acompanhado de perto voando a meia velocidade, puxou toda a marcha se garantiu no que pode e seguiu a frente, quase arrependido de ter "botado pilha" no velho voador novato.

Tudo deu certo, chegamos alto sobre o Pai Inacio e Beto encontrou o pouso que a lenda citava, pousamos e dai pra frente foi só alegria e dor no quadril, eu nao poderia dizer qual era maior.

O resgate chegou em 5 minutos e Jacques mesmo frustrado demonstrou autêntico entusiasmo pelo voo.

As 5 horas da viagem de volta foram preenchidas com historias, piadas, gargalhadas e a mais pura felicidade.